Stranger Things 5: foi um bom começo?
Volume I chega com quatro episódios em preparação para o desfecho grandioso da Série
“Porque parte da jornada é o fim…”
Assim disse Tony Stark, no final Vingadores Ultimato.
Saber a hora de terminar a história, encerrar os arcos e se despedir dos personagens que aprendemos a gostar ao longo das temporadas, é parte essencial para manter a qualidade da série, com certeza Breaking Bad é um ótimo exemplo desse conceito. Claro, entregar um final plenamente satisfatório, coerente, emocionante, épico, inteligente e alinhado com que foi a série ao longo das temporadas também é crucial.
Seguindo esse novo modelo lançamento parcial do episódio, o príncipio do fim de Stranger Things, é um indicio claro de que a série repete suas formulas investimento numa preparação robusta para seus três capítulos.
Numa época em que o hiato entre as temporadas das séries segue cada vez maior, muitas vezes diminuindo a expectativa e ansiedade dos fãs, e em alguns casos, caindo até no esquecimento, Stranger Things segue importante e relevante mesmo com a sua última temporada finalizada em 2022, aliás, é correto dizer que Stranger Things, se tornou um daqueles eventos que fica marcado na Cultura Pop, algo no mesmo nível por exemplo de Game of Thrones.
Neste cenário o fã da série que recebeu o Volume I da Temporada Final, tende a ficar bem satisfeito, afinal a série segue sendo exatamente o que foi em seus quatro anos anteriores, muita nostalgia, easter eggs e referências a cultura pop dos anos 80, personagens carismáticos e divertidos, ação, ficção cientifica e terror, episódios bem dirigidos, e uma história que é fluída na maior parte do tempo, mas com barrigas que não são insuportáveis de acompanhar (confesso que o arco da Califórnia e o irritante Argyle (na temporada 4, quase mudaram o meu conceito).
Retomamos a história 18 meses após os eventos da Quarta Temporada, Vecna está desaparecido, e mesmo que não tenha sido registrado nenhum incidente envolvendo o Mundo Invertido, Hawkings vive em regime de quarentena militar, e apesar dos nossos personagens viverem em uma aparente normalidade, estamos falando de Stranger Things, e como de praxe essa tênue sensação “de que está tudo bem” se esvai ainda na primeira parte do primeiro episódio.
E as semelhanças não param por aí, novamente a história é dividida em núcleos com a narrativa intercalando entre eles, a nostalgia e as referências aos anos 80 seguem muito presentes, os personagens centrais da nossa história seguem adoráveis, crescidos, mas ainda adoráveis, e a história segue sendo muito interessante, alternando ficção científica, mistério e muita ação.

Além dos personagens que aprendemos a amar a história segue sendo o ponto alto da série, esse primeiro volume, tem sim um ritmo mais cadenciado porém constante, focado em posicionar novas e antigas peças no tabuleiro da Batalha Final por Hawkings.
Seu desenvolvimento é fluído, dessa vez não temos núcleos/arcos desinteressantes, como o arco da Kaly na Segunda temporada, ou os núcleos da União Soviética e da Califórnia na quarta temporada, o primeiro dura muito mais do que devia, e o segundo apesar de ter sua função narrativa, é extremamente tedioso;
Não é um mal que acomete esses quatro primeiros episódios finais, além da clara função narrativa, são arcos dinâmicos, que evoluem a história, emocionantes, divertidos em certos momentos, e trazem novas peças para esse tabuleiro, trazendo novas perguntas sobre a origem e os planos de Vecna, e até mesmo trazendo dúvidas sobre quem é de fato a real ameaça.
Mas o que realmente me chamou a atenção nesse início de temporada, é como essa história amadureceu. Me refiro à forma como o roteiro discute temas como sexualidade, auto aceitação, identidade, confiança e companheirismo. O próprio modelo de lançamento dos episódios, liberados em volumes, é uma evolução da pioneira do streaming, em relação ao seu modelo de negócio e a forma com que o seu público consome seus produtos.
Essa maturidade se estende para a construção das nossas adoráveis crianças, que cresceram e viram muita coisa nesse processo, de modo que isso não passa em branco, mostrando como cada um deles lida com suas mudanças, traumas, motivações e dilemas, trazendo mudanças coerentes em relação ao que já foi determinado para esses personagens nas temporadas anteriores

Esses primeiros episódios parecem indicar uma tendência que os Irmãos Duffer tendem a amarrar as pontas soltas da série, conectando vários eventos que pareciam eventos soltos dentro da trama, além de entregar o real significado a fatos importantes, mas pouco explicados na série como por exemplo, a real motivação de Vecna no rapto de Will Barnes.
E falando nele, como os trailers indicaram o icônico vilão retorna como a principal ameaça da temporada (pelo menos até o momento…), com um novo visual ainda mais ameaçador, colocando em prática uma nova etapa do seu plano sinistro, em busca seu ideal psicótico e supremacia.

Jamie Campbell Bower reprisa seu papel como Vecna, com o mesmo olhar e a mesma postura ameaçadora da temporada anterior, porém sem o mesmo brilhantismo já que não há o mesmo espaço para atuar de “cara limpa” sem os quilos de maquiagem da caracterização da criatura.
Justamente a minha única insatisfação a esses primeiros quatro episódios diz respeito justamente ao famigerado Vecna, e, ainda que a aparição dele nesse início de temporada seja memorável, e ele realmente seja uma ameaça digna de todo furor que o mesmo causa, é preciso dizer que o roteiro peca em escalonar o nível de ameaça de Vecna, para sinalizar o final apoteótico que prometido.
Exemplifico essa questão com Thanos em Guerra Infinita, que aparece logo no início do filme, e a partir daí ele vai se tornando cada vez mais poderoso e ameaçador a cada nova aparição no filme, de modo que no clímax do filme, se justifica a união dos heróis para tentar parar uma ameaça que ao longo do filme se tornou gigantesca.
Cada novo episódio desta última temporada custou em média US$ 60 milhões, o que visível em tela, graças a beleza do design de produção, qualidade dos cenários e locações e principalmente os efeitos, tanto os práticos quanto em CG, aliás os efeitos estão incríveis nessa temporada.
Apesar do começo morno, o primeiro volume da temporada final de Stranger Things atendeu totalmente às minhas expectativas, é coerente na construção das relações, no desenvolvimento dos personagens, tem uma história fluida que sinaliza o fechamento dos arcos e amarração das pontas soltas enquanto traz novas peças para o jogo, com a promessa de um desfecho épico.
Alerta de Spoilers!!!
A partir daqui teremos vários spoilers dessa nova temporada
Feiticeiro
“Sorcerer”
Não posso finalizar essa análise sem comentar sobre o quarto episódio desse volume.
Drama, terror, tensão e muita ação compõem um episódio que começa com Hooper (David Harbour) e Eleven (Millie Bobby Brown) invadindo uma instalação militar secreta no Mundo Invertido, intercalando com as revelações de Max (Sadie Sink) presa nas memórias de Vecna, e o plano de Joyce (Wynona Rider), Lucas (Gate Mattarazzo), Lucas (Caleb MacLaughlin) e Mike (Finn Wolfhard) para salvar as crianças e protege-las de Vecna.
Óbvio que tudo dá errado, e vários Demongorgons aparecem matam vários militares, até que o próprio Vecna em pessoa aparece, mais cruel do que nunca, acaba facilmente os militares restantes, pega as crianças e manda para o Mundo Invertido e de quebra ainda humilha Will (Noah Schnapp), contando para ele inclusive, uma nova parte do seu plano nefasto.
Além da boa construção, da narrativa fluida, do senso de urgência e de perigo presentes o tempo todo, esse episódio tem uma cena de ação em plano-sequência, sensacional, que termina justamente com a chegada de Vecna à nossa dimensão.
Mas sem dúvida, nos anos futuros esse episódio será lembrado por ser aquele em que Will Byers enfim deixou de ser uma vítima e assumiu um merecido protagonismo. Em meio ao caos e desespero Will vê sua mãe, e seus amigos sendo atacados pelos Demongorgons, destinados à uma morte certa.

Fim dos Spoilers.
Stranger Things segue sendo um furacão , causando uma mobilização cada vez mais rara no meio da Cultura Pop, e se o lançamento desses quatro primeiros episódios derrubou o aplicativo da Netflix, imagine o que vai rolar no lançamentos dos dois próximos volumes…
O Volume II contendo três episódios chega em 25 de dezembro, com cada episódio com 1 hora de duração, já o oitavo e último episódio, chega em 31 de dezembro, e será praticamente um filme, tendo duas horas de duração, inclusive com lançamento em alguns cinemas Estadunidenses.

Membro vitalício da Ordem dos Dúnedain, está nesse negócio de nerdices e Cultura Pop muito antes de Canção dos Ainur ser cantada. Criador desse espaço como ponto de exposição e opinião de tudo o que rola no Universo da Cultura Pop, além de exercitar seu amor pelo Cinema, Quadrinhos, Games e muito mais...

